segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Que tal um Filme que te evangelize... Os Miseráveis


Vamos começar do início: é um musical. Se você não gosta de musicais porque as pessoas não falam, só cantam, mesmo assim eu ainda peço dê uma chance a esse filme. Todos os atores, com exceção de Sacha Baron Cohen, que está ele mesmo e que não tem uma performance muito impressionante cantando, me surpreenderam. Só o fato de os atores estarem cantando ao vivo já muda completamente o cenário, as músicas ganham uma emoção nunca vista em musicais anteriormente. Jackman tem uma extensão vocal muito boa, e consegue colocar na música algo da crise interior do personagem de uma forma muito envolvente. Anne Hathaway elevou a música tema "I dreamed a dream" a um nível que a partir desse filme vai ser difícil de não ser comparado.

Eu falava de Sacha Cohen sendo ele mesmo, ele não me surpreendeu mas ele não deixa de ser uma bom ator e seu personagem junto com a mulher interpretada pela atriz Helena Bonham Carter são o tom leve e colorido do filme, sem eles acho que ninguém aguentaria o sofrimento desse filme. Eu já tinha assistido e gostado da versão com Liam Neelson mas achei que naquela faltou a "conversão" de Jean Valjean, já nesta Hugh Jackman me levou às lágrimas.

A fotografia está impecável, o figurino pensado até o detalhe, os cenários que tem a liberdade de serem reais as vezes lembram o palco da Broadway  e às vezes crescem à grandiosidade das montanhas francesas, das lágrimas de Fantine ( que Anne Hathaway produziu de verdade)  aos dentes manchados de Jean Valjan passando pelas borboletas ao redor de Cossette (Amanda Seyfried) todos os detalhes são pensados e estão lá de propósito.

Sim, mas e a Fé?

É a misericórdia que que salva, transforma e converte as pessoas. Mais do que uma revolução política e uma "liberdade" conquistada pela força, é claramente a misericórdia e o amor que transformam as vidas das pessoas.

A revolução francesa tão exaltada no filme que custou a vida de milhares de religiosos, padres e freiras guilhotinados, simplesmente pelo fato de guardarem os votos que fizeram a Deus, trouxe mais fome e miséria para o povo, extinguiu muitas Ordens religiosas na França, acabou com o ensino religioso no país, apagou uma série de assistências prestadas aos mais necessitados pela Igreja e colocou a "razão" acima de Deus. Sim, houve a declaração dos direitos humanos a qual hoje a Igreja apóia, mas, na época, foi uma negação de Deus em vista do homem.

Neste sentido, o filme perpassa um ponto importante na vida de todo cristão: o trabalho, pelo que "a doutrina social católica não pensa que os sindicatos sejam somente o reflexo de uma estrutura «de classe» da sociedade, como não pensa que eles sejam o expoente de uma luta de classe, que inevitavelmente governe a vida social. Eles são, sim, um expoente da luta pela justiça social, pelos justos direitos dos homens do trabalho segundo as suas diversas profissões. No entanto, esta « luta » deve ser compreendida como um empenhamento normal das pessoas «em prol» do justo bem: no caso, em prol do bem que corresponde às necessidades e aos méritos dos homens do trabalho, associados segundo as suas profissões; mas não é uma luta «contra» os outros.

Se ela assume um carácter de oposição aos outros, nas questões controvertidas, isso sucede por se ter em consideração o bem que é a justiça social, e não por se visar a « luta » pela luta, ou então para eliminar o antagonista. O trabalho tem como sua característica, antes de mais nada, unir os homens entre si; e nisto consiste a sua força social: a força para construir uma comunidade. E no fim de contas, nessa comunidade devem unir-se tanto aqueles que trabalham como aqueles que dispõem dos meios de produção ou que dos mesmos são proprietários. A luz desta estrutura fundamental de todo o trabalho — à luz do fato de que, afinal, o «trabalho» e o «capital» são as componentes indispensáveis do processo de produção em todo e qualquer sistema social — a união dos homens para se assegurarem os direitos que lhes cabem, nascida das exigências do trabalho, permanece um fator construtivo de ordem social e de solidariedade, fator do qual não é possível prescindir." (Carta Encíclica Laborem Exercens, do Bem-aventurado João Paulo II, nº 20).

Posso afirmar, tendo morado quatro anos na França, que até hoje a fé sofre as consequências nefastas dessa revolução  que em nome da "liberdade" profanou igrejas, matou pessoas que não tinham nada contra o Estado só pelo fato de serem fiéis a Roma. Graças ao bom Deus, temos inúmeros mártires e São João Maria Vianney (tocado pelo testemunho do seu pároco que permaneceu fiel à Igreja e servia os paroquianos escondido do Estado) como fruto dessa revolução. Acredito que o espectador católico vai conseguir ver o grande abismo de diferença entre o amor que tem poder de mudar as vidas das pessoas e a violência que pode até transformar um cenário político, mas que traz consigo consequências de morte, frustração e cisma.





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