Enquanto a grande maioria dos filmes de ficção científica sobre o fim da civilização humana se apoiam largamente sobre efeitos especiais, “Filhos da Esperança” surpreende por apoiar-se no próprio enredo – brilhante e inexplorado por este viés – para manter a ação. Aqui, o fim da civilização humana não ocorre por causa de catástrofes naturais ou vindas do espaço; ela vem de dentro da própria sociedade: da incapacidade humana em criar descendência.
Por o filme levar tão a sério um tema que é amplamente defendido e incentivado na cultura moderna – a redução populacional no planeta – vem a ser extremamente realista e, por isso mesmo, aterrorizante; pois mostra o reverso que não é discutido na mídia sobre este fato.
A história, baseada no livro “The Children of Men” de PD James, tem lugar em Londres de 2027. Após anos de declínio populacional no planeta – inicialmente bem visto e apoiado e pelas Nações Unidas, governos de estados e pela própria população – a raça humana, por razões desconhecidas, alcança o ponto de total esterilidade.
O livro lança maiores detalhes sobre o que a falta de crianças causa na sociedade: as infindáveis pesquisas para dar luz à uma nova geração, a frustração das autoridades em não conseguir solucionar o problema por meio da ciência e a condição de desesperança e desespero em que a as pessoas são deixadas quando nenhum esforço humano parece ser capaz de reverter a condição de esterilidade.
Como consequência, não existe mais qualquer razão para preservar o meio ambiente, as obras de artes ou os grandes monumentos históricos; o mundo é entregue a poluição e ao desinteresse de construir qualquer legado; a falta de esperança de futuro toma conta do presente e ataques terrorista, a anarquia e bombardeamentos tornam-se males comuns.
O filme do diretor Alfonso Cuarón, apesar de não entrar em todas as questões discorridas pela autora PD James, apresenta um cenário bastante convincente para uma sociedade sem filhos. Exatamente por não trazer nenhuma reação inacreditável, a história vem ser bastante plausível – e por isso chocante – pois evidencia a necessidade de bebês para um mundo sustentável (e quão tolo é o desprezo da cultura moderna aos recém-nascidos não são planejados e de gestações vulneráveis).
De acordo com a história, a pessoa mais jovem do mundo tem 18 anos e há um mal-estar geral de desordem e desespero instalado no mundo. O único governo que mantém relativa organização é a Grã-Bretanha – agora liderada por um ditador – que, para defender a vida em sociedade contra a falta esperança generalizada na população, oferece a seus cidadãos pílulas de suicídio grátis. Além disso, por ser a única nação que resiste ao caos, atrai um enorme contingente de imigrantes ilegais a procura de refúgio, mas que são perseguidos pela polícia local e, uma vez presos em jaulas como animais, são mandados para Bexhill, uma ilha do território britânico transformada em campo de concentração.
Neste cenário, o foco volta-se sobre Theo Faron (interpretado por Clive Owen), um ex-manifestante que ao chegar na meia-idade conforma-se em ser um funcionário público de baixo escalão (só mais um pobre coitado em um mundo decadente).
Para conseguir sobreviver psicologicamente nesta realidade, a maior parte das pessoas entrega-se a desordem pois veem a morte da sociedade como fim inevitável e, portanto, sentem-se no direito de fazerem o que quiserem – o que inclui ataques terroristas, bombas e muita violência; parte da população volta-se para religião em suas diversas formas - umas das apresentadas no filme são os “Renunciantes” (que se auto-flagelam pedindo perdão para a humanidade) e outra são os “Arrependidos” (penitentes que passam meses de joelhos para serem salvos). A estratégia de Theo é a de evitar confrontar-se com a realidade e não pensar sobre o que esta acontecendo.
A vida Theo torna-se ainda mais abalada quando é seqüestrado por um grupo terrorista chamado “Peixes”, liderada por sua ex-mulher Julian (interpretada por Julianne Moore), uma ativista que o procura para ajudá-la a contrabandear Kee, uma jovem imigrante, para fora do país.
Kee guarda um segredo sensacional que os terroristas querem usar para seus próprios fins, e busca em Theo – um herói pouco promissor – ajuda.
Nesta missão, Theo recupera algum do seu idealismo perdido e também uma razão que lhe dá verdadeiro sentido para prosseguir
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