"A grama é sempre mais verde no quintal do vizinho." Essa é uma das piores coisas sobre a pobreza: ela é enganosa. Quando se tem pouco, você ainda pode acreditar na mentira de que mais lhe irá fazer feliz ... O rico sabe por experiência que a riqueza não traz felicidade; já o pobre ainda pode cair nessa mentira. (Peter Kreeft em “Three Philosophies of Life”)

Um dos exemplos que desmentem esta crença – de que ricos e poderosos se encontram imunes ao sofrimento, infortúnios e solidão; e que a amizade, a família e o amor não são bens comercializáveis mas sim dons – é a história do Rei inglês George VI.
Atenção! Contém Spoilers!
A História
Retratada no filme “O Discurso do Rei”, a vida do príncipe Albert (que viria a tornar-se o Rei George VI, pai da atual Rainha Elizabeth II) foi marcada por maus tratos ao longo da infância (incluindo longo períodos de fome e rejeição pela babá que o cuidava), a educação rigorosa para torná-lo destro (forçando-o contra a inclinação natural de canhoto) e o surgimento da gagueira por volta dos 5 anos. Esta última, sem possibilidade de adestramento, aparentemente o acompanharia pelo resto da vida.
Albert – ou Bertie, como era chamado dentro da família real – era um homem tímido e vivia à sombra do irmão mais velho, David – o primeiro em linha na sucessão da coroa. Ao contrário de Albert, David era carismático, extrovertido e bom orador. Para uma época marcada pelo crescimento da comunicação através de jornais e principalmente o rádio, a habilidade da fala era extremamente importante para qualquer chefe de estado.
Impulsionado pela esposa Elizabeth, que quer ajudá-lo na sua crescente necessidade de falar em funções públicas, o príncipe, que já havia tentado vários tratamentos contra a gagueira, começa a ter progressos somente quando encontra o australiano Lionel Logue.
A princípio, Albert reluta contra a condição imposta por Logue de se tratarem como iguais durante a terapia; não aceita que Lionel o chame de Bertie, em vez de “Sua Alteza”, uma vez que este é apenas um plebeu; e desiste do tratamento. Entretanto, após escutar a gravação da primeira sessão, Albert tem reavivada a esperança de vencer a gagueira e percebe que Lionel talvez seja sua única possibilidade.
Para ajudar Bertie, Lionel faz uso de varias técnicas não convencionais e também explora as questões psicológicas por trás do problema. Por fim, acaba se tornando um confidente do príncipe e, mais tarde, um amigo.
Logue não tinha um diploma de médico e tratava seus pacientes de forma não ortodoxa, sua qualificação como terapeuta vinha do trabalho realizado com soldados em estado de choque após a Primeira Guerra Mundial. Por isso, era considerado desqualificado por muitos assessores da coroa.
Em janeiro de 1936, o Rei George V morre e David sobe ao trono como Rei Edward VIII. Segue-se então uma crise na coroa devido a determinação de Edward VIII em casar-se com Wallis Simpson, uma socialite americana que ainda se encontra casada com o segundo marido – uma união, portanto, inconciliável com a função de Rei da Inglaterra e, por isso, também chefe da Igreja Anglicana. O Rei Edward VIII, por fim, abdica ao trono da Inglaterra para casar-se com Wallis e Albert sobe ao trono como rei.
Imediatamente após, a Inglaterra declara guerra à Alemanha. Neste cenário conflituoso, outra figura importante surge em defesa da Inglaterra e apoiando o rei: a de Winston Churchill. Apesar das aparições deste no filme serem breves, o personagem faz justiça ao verdadeiro Churchill: ele não era carismático nem cativante, mas era um homem de caráter, e por isso determinante para a honra da história da Inglaterra.
Ao declarar guerra contra a Alemanha nazista, em setembro de 1939, o Rei George VI convoca Logue ao Palácio de Buckingham para se ajudá-lo no discurso a ser retransmitido pela rádio para toda Grã-Bretanha e Império.
Documentos históricos mostram que Logue estava sempre presente nos discursos do Rei George VI durante a guerra e de que eles se tornaram amigos. Amizade esta que os veio a seguir pelo resto da vida.
“Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro...
Um amigo fiel é um remédio de vida.” (Eclesiástico 6, 14.16).
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