“Para o homem que cometeu o mal, o veredicto de sua consciência permanece um penhor de conversão e de esperança”. (CIC 1797)
Oz Mágico e Poderoso traz a história de Oscar, ilusionista canastrão que ganha a vida fazendo “bicos”. Oz e seu assistente (este bem contra a sua vontade) enganam meninas bonitas das cidades para participarem de seus “shows”.
O filme dirigido por Sam Raimi, em muito pouco se assemelha à história original, uma vez que aqui, a real intenção é trazer ao conhecimento de todos como Oz chegou em Oz! E de que maneira tornou-se o grande amigo e ajudador de todos os que precisassem. Raimi utilizou toda a atmosfera do lugar, toda a história para chegar numa história anterior.
As atuações não são das melhores. Mila Kunis e Michelle Williams deixam muito a desejar; mas todo o filme é muito bem conduzido por Franco, que realmente consegue habitar o real e o que se pode imaginar. É um ator fantástico, e o filme permite que vejamos isso.
O que encanta é a não necessidade de explicações diante do mundo mágico de Oz, mesmo quando nele o ilusionista chega desavisado.
Mas o que mais Oz pode nos oferecer? Em quem momento ele deixa de ser somente um filme e passa a conquistar um lugar de reflexão? Aliás, acredito ser impossível assistir a filmes sem neles construir nosso próprio lugar de pensar e relembrar e refletir e ser...
A infinita busca por quem somos, e por sermos grandes fez do filme de James Franco um marco. Tende a parecer de uma impossibilidade ímpar dar-lhe tal responsabilidade, uma vez que ainda é apreciado por tantas pessoas na supertela. Oz traz valores incríveis hoje já esquecidos por tantos de nós.
Enquanto a sociedade caminha para um penhasco de medo, de dor, de inexistente vitória, Oz lança seus espectadores num abismo de possibilidades inventivas, seletivas e bem determinadas.
Oz Mágico e Poderoso traz o pior de um homem, mas que não é, nem de longe, motivo para sucumbir. Oscar é um mágico picareta de um circo mambembe, que ganha a vida trapaceando em seus espetáculos. Sonha em ser grande. E, acidentalmente, consegue! Consegue em meio a tantos “nãos” forjados, que não vê outra saída a não ser aceitar que é essencialmente diferente do que tem sido! Oscar, como se chama, vive buscando a grandeza pela mentira, pela enganação, pela falta de honestidade em lidar com os outros e consigo mesmo.
Em uma de suas fugas, entretanto, encontra-se obrigado a prometer mudanças a ninguém mais, ninguém menos que a Deus! O filme em suas falas não cita o nome do Dono de tudo neste momento, mas Oz grita para o alto, prometendo ser melhor, prometendo mudar caso ele ganhe uma segunda chance!
Aliás, tanto se tem falado em segunda chance, que ao assistir ao filme fiquei a pensar em quantas chances Deus nos deu para melhorarmos, e nós, conscientemente, as jogamos fora.
Em meio a tantas situações pelas quais passamos, estão as chances de recomeçar: em novo lugar, em novas situações, com novas pessoas. Às vezes, somente com novos pontos de vista num lugar que sempre esteve ao nosso dispor!
Oz é um daqueles filmes que você assiste e quer continuar vendo; mas isso porque ele consegue trazer o que em nós está tão escondido, mas é, paradoxalmente, tão latente, que esquecemos como e o que somos. Ele nos conduz a um universo que nós esquecemos que ainda dele fazemos parte: o universo da verdade! É impressionante como a capacidade de iludir as pessoas é a mesma que o permite ver a verdade, e como pode tornar-se alguém melhor.
Na condição de espectadora, ver Oz em uma nova adaptação, bem diferente da que conhecemos é impressionante. Mas o que mais impressiona no filme é a transparência com a qual o mágico, e por consequência, a alma humana são tratados. Somos amplamente retratados nas mais diversas situações do filme: desde o medo da verdade até à capacidade de estarmos dispostos a perder o que mais queremos em favor de pessoas que nos são caras!
Se em “O Mágico de Oz” original, a amizade é uma das trilhas dos tijolos amarelos, em “Oz Mágico e Poderoso” não poderia ser diferente: o olhar para o outro e nele enxergar-se fez deste filme um exemplo de recomeçar, de perdoar! Oz encontra nos outros, nas angústias dos outros o que o machuca também, e juntos, lutam contra quem pode machucar a todos.
O exame de consciência que Oz faz é liberado a partir de seu contato com o próximo. É na necessidade do outro que Oz também se redime; que ele se reconhece no erro, e errar já não seria mais a solução. Partiu, então, numa busca mais emocionante, e, sobretudo, de verdadeira magia: encontrar-se e encontrar o outro na verdade!
É um filme que redescobre em nós a força, a coragem e a capacidade de amar sem nada em troca: decidir amar! Ele insere ou (assim seja) reinsere em nós o “intus legere”. Ajuda-nos a “ler por dentro”. E só então, a partir dessa viagem “insólita”, é que notamos o quão cheios de vida somos.
Em Oz Mágico e Poderoso, ele não é poderoso por ser mágico, mas torna-se os dois quando desce até o mais recôndito de seu nada, quando é humilhado, quando se depara com o que fez de pior às pessoas, que então redescobre que pode, e não sozinho, conquistar tamanho poder! E este poder está nas mágicas das relações: ele jamais conseguiria sem a ajuda daqueles que conheciam o seu pior.
Também conosco é assim: somente aqueles que nos conhecem e de nós sabem o pior, é que nos ajudam (sem falsas expectativas) mas com incontável esperança, a sermos melhores.
Forte, mágico e poderoso é aquele que, sem medo, ou a despeito dele, se volta para a verdade de não estar só, e recomeça! ·
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