sexta-feira, 10 de maio de 2013

De repente 30



“É preciso saber que tudo tem um tempo certo para acontecer. É preciso saber Que o que passou ficou pra trás é tempo de aprender. E saber que a vida é um longo “vem e vai” em todo lugar debaixo do céu.
Há um tempo pra chegar e outro pra partir.
Há um tempo pra chorar, tempo pra sorrir.
Há um tempo pra plantar e outro pra colher.
Há um tempo pra nascer, tempo pra morrer.
Há um tempo pra cada coisa acontecer”.

"De Repente 30" é uma comédia romântica que enfatiza não só o autoconhecimento, mas a necessidade de não ser só. 

O filme nos mostra, principalmente a nós, mulheres, como é falha a visão de que carreira e sucesso profissional sustentam a alma feminina: Jenna deseja tornar-se adulta, bem sucedida, rodeada de popularidade; acorda com tudo isso, mas inundada de preconceitos, valores destorcidos, más companhias, e, o pior de tudo: sem um amor!

Sinopse

Jenna Rink (Christa B. Allen) é uma garota que está descontente com sua própria idade, já que seus colegas mais populares da escola não lhe dão atenção, seus pais ficam sempre no seu pé e o garoto por quem está apaixonada nem sabe que ela existe. A única amizade que Jenna possui é Matt Flamhaff (Sean Marquette), seu vizinho. Para tentar reverter a situação, Jenna decide por ter uma grande festa para o seu 13º aniversário, convidando todos os adolescentes que conhece. Porém, o que deveria ser sua consagração se transforma num grande desastre, após Jenna ser trancada em um armário devido a uma brincadeira e ser completamente esquecida pelos demais presentes na festa. Triste, Jenna faz um pedido: virar adulta de repente, para ter a vida com a qual sempre sonhou. O pedido, milagrosamente, se torna realidade e, no dia seguinte, Jenna (Jennifer Garner) desperta em 2004 e com 30 anos de idade. De início, Jenna fica assustada com as novidades de sua vida, mas aos poucos fica cada vez mais encantada por ter se tornado tudo aquilo que sempre sonhou ser. Contudo, quando tenta reencontrar Matt (Mark Ruffalo), Jenna descobre que perdeu contato com ele há vários anos e que agora ele está prestes a se casar.

Análise

Jenna, cansada de ser uma adolescente sem o mínimo de popularidade, deseja ter 30 anos, ser bem sucedida e ter um namorado. Magicamente ela tem seu desejo realizado, e vê-se, aos trinta anos, rodeada de glamour, fama, dinheiro e rapazes. 

Na sociedade moderna, esse parece ser o sonho de muitas meninas, e até mesmo mulheres. Entretanto, há diversos fatores e um mais forte que freia tais desejos: a alma feminina. Embora sonhemos com tudo isso, se não encontramos aquilo que é nosso desde a criação, não nos encontramos felizes: ter um amor, ser mãe, construir família. E as mulheres hoje, mesmo com a alma gritando nelas, preferem matar a própria vocação para viver o sonho da popularidade no mundo adulto (dinheiro, prestígio, excelente cargo profissional). Somos como Jenna que se vê sonhando o que acha bom para ela.

Mas ao contrário de Jenna, deixamos o tempo em curso nos levar para longe de quem somos de fato; deixamo-nos ser levadas para os braços de um futuro não sonhado, mas forjado a partir de meias decisões que julgamos completas. O que permitimos que forme os nossos sonhos? Quantos de nós nos permitimos sonhar os sonhos de Deus? Ou, ao contrário, quantos de nós nos deixamos seduzir por um simulacro de sonho, de felicidade diante de uma sociedade, hoje tão distante do céu, tão longe das coisas do alto?

Uma das reflexões que esse filme me traz é exatamente esta: em que momento tudo o que eu sonho faz parte do sonho de Deus? E há, em mim, a vontade de acordar dos meus sonhos sem céu para fazer parte do projeto amoroso de Deus para mim? Em que momento Jenna percebeu que seus pais, por exemplo, a criavam para um determinado projeto?

E antes de alguém refutar tal ideia, Deus não nos manipula, como dizem os pseudo esclarecidos; pelo contrário, Deus nos forma gradativamente para que sejamos capazes de escolher. Sábio é aquele que escolhe estar com Deus; viver os sonhos dele. Entretanto, quando decidimos pelos nossos próprios sonhos, acabamos, talvez, como Jenna: com uma vida que nos descaracteriza; que nos transforma em meros coadjuvantes da modernidade. Por outro lado, porém, quando acordamos desse sonho forjado, incutido em nós por uma vida afastada da Verdade, podemos contemplar a vida sonhada com o que somos, desde antes de sermos formados

Acredito que diante desses questionamentos, é possível perceber o quanto o filme aborda a questão do autoconhecimento, e mesmo do conhecimento do que Deus quer para nós, claro que guiado por uma análise que enfatize isso.

Enquanto Jenna tenta se habituar à sua nova vida (a sonhada, desejada), reencontra seu amigo Matt, agora, ambos com 30 anos, com rumos completamente diferentes tomados. Ao rever Matt, a reação de Jenna é a mesma de quando eram crianças, e mostra a ele todo o carinho que sempre sentiu. 

Mas o que mais me chama a atenção no filme é a sensibilidade com a qual Jenna vai percebendo que sua vida atual não é exatamente uma vida “digna”. Sua inocência ainda infantil é o que a permite ver que seus atos do presente que ela desejou não são atos bons, nem algo que seja digno de algum valor. Suas ações passam, então, a contornar, e até corrigir seus erros do presente. E paradoxalmente o que faz isso é a consciência do passado de Jenna: Por ainda estar recém acordada de um passado quase contemporâneo, Jenna consegue analisar suas ações, seus novos sentimentos, e assim, perceber que ficou muito tempo vivendo uma vida emprestada: de sonhos, de ilusões. 

Como quando começamos a tomar consciência de nossos pecados, e assim, corremos ao abraço misericordioso de Deus, no Sacramento da reconciliação, Jenna vai em busca de seus pais, que ela, para que tivesse uma carreira promissora, deixou distantes. Reencontra a casa que era dela, com tudo o que um dia ela havia sido; reencontra os pais, que a olham, e sem levar em consideração tudo o que ela fez, a acolhem, dão a ela conforto, carinho. Como não comparar isso com a parábola mais bonita da Bíblia? De que forma vamos nos distanciando de Deus, e ao mesmo tempo o deixando cada vez mais de lado, mais afastado, mais “inexistente” fora de nós?

Ao analisar “De repente 30”, algumas coisas passam a ser mais relevantes que a comédia romântica à qual o longa pertence: Jenna, que ao ter trinta, em nenhum momento acha a idade algo relevante e complicado; seus reencontros com o amor, com os pais, com a inocência. 

É curioso perceber que quando Jenna vai atrás de Matt, começa então uma busca da protagonista por ela mesma. E nossa vida, diante de nossos valores, de nossos erros, nada mais é que uma infinita busca por nós mesmos, mas à luz daquele que nos criou à Sua imagem e semelhança. Santo Agostinho dizia que há um imenso vazio no coração do homem, e tal vazio somente é preenchido por Nosso Senhor. O homem vive, portanto, numa incansável busca por aquele que vai sanar todas as suas necessidades, o Amado de nossas almas. 

É interessante assistir ao filme com um olhar de graça: o filme tem seus pontos altos de comédia, sim, mas é mais que isso: é a história do reencontro de alguém com sua verdade! Jenna reencontra quem é dentro de suas buscas, de seu exame de consciência, de seu amor!

Conosco não pode nem deve ser diferente: em Deus encontramos o que somos, porque o somos como Deus sempre sonhou. É maravilhoso perceber que nós estamos sujeitos ao tempo, mas Deus não. O tempo de Deus nos molda, mas sempre com nosso consentimento, se dermos a chance de olhar para o que somos com a honestidade necessária para a volta, para a correção.

O tempo, o que causa extrema alegria em nós, é sempre de voltar!

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